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Mulheres salvaram minha vida

Mulheres salvaram minha vida. E por isso, eu pensei longamente em como e no que escrever sobre rivalidade feminina. Em falar sobre como somos socializadas para entender que nosso lugar no mundo só é validado pelo olhar masculino e como isso atravessa toda nossa relação com outras mulheres porque nos coloca como rivais já de partida.

E a rivalidade feminina, além desse componente basilar, que é a disputa pela atenção masculina também é fomentada por um motivo não tão óbvio porém absolutamente estratégico aos objetivos de manutenção do patriarcado: nos manter profundamente desunidas, desconfiadas umas das outras, nos manter em silêncio, sem trocar experiências sobre o que acontece em nossas vidas, nos manter sempre na defensiva, colocando homens no centro. Desde amigas de infância que brigam por causa de um namorado, até cunhadas, sogras, noras, e todas as outras relações entre mulheres que envolvem homens e que são alimentadas por ódio na maior parte das vezes gratuito e disputa pelo amor do macho em questão.

Eu poderia escrever laudas e laudas sobre como mulheres tomam por elogio ser diferenciada (“você não é como as outras”), sobre como nunca dão o benefício da dúvida para outras mulheres, sobre como não falam da sua vida para “não atrair inveja”, sobre como encaram críticas vinda de uma mulher como “recalque”, sobre como giram tudo em torno de quem é a mais “bela” (e consequentemente chama mais atenção masculina) e sobre como não confiam no alerta de outras mulheres — principalmente sobre homens.

E eu penso nisso tudo e me dá uma tristeza profunda porque eu vejo como são insidiosos e eficientes os mecanismos do patriarcado em nos manter desunidas e em impedir que nos enxerguemos como classe, como iguais, como irmãs. Como somos impedidas na origem de enxergar como é poderosa a união entre mulheres, sobre como a revolução acontece quando mulheres reúnem-se e conversam.

Tudo o que eu tenho, tudo o que eu sou, eu devo a outras mulheres. Tudo. Da minha mãe – a primeira mulher que eu amei, passando pela minha irmã, minhas sobrinhas, todas as minhas preciosas amigas. Eu não sei se elas sabem, se eu já disse assim tão textualmente, mas eu digo agora: vocês salvaram minha vida muitas e muitas vezes. Com afago, conselhos, esporros, abraços, acolhimento, ajuda material, psicológica, emocional, física e extrafísica. Em todos os momentos cruciais era uma mulher que estava do meu lado, me apoiando de alguma forma. Todas as vezes que cai, foi pela mão de uma mulher que eu me ergui novamente. Sempre que tudo ficou escuro demais, foi uma mulher que apareceu com uma lanterna, mesmo de luminosidade débil. Eu não estaria aqui, eu não seria eu, se não fosse pelas mulheres que atravessaram minha vida.

Os homens que por aqui passaram quase sempre me trouxeram a dor que elas vinham ajudar a curar. E se eu tenho algum arrependimento é de não tê-las ouvido mais, de não tê-las antes junto de mim, desde sempre. De não nascer sabendo que são as mulheres, umas pelas outras, que vão te pegar pela mão nessa dura travessia da vida e colocar flores no seu cabelo enquanto cantamos canções.

Eu sou profundamente grata a todas, que ainda estão, ou que passaram e as que certamente virão. Profundamente. Talvez elas nunca saibam o quanto. E também tenho um amor desmedido por todas, companheiras que somos desse cativeiro que é ser mulher sob patriarcado. Eu acredito na força do amor que só uma mulher pode te oferecer, e sei que elas sempre estarão lá por você. Alguma mulher sempre estará lá por você, basta você dar a chance

Cila Santos

https://cilasantos.medium.com

Escritora, feminista, mãe e ativista pelos direitos das mulheres e das crianças. Criadora do projeto Militância Materna, falo sobre feminismo, maternidade e infância, disputando consciências por um mundo melhor. Vamos juntas?

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